Todos sabem que a Grécia mentiu sobre os níveis da sua divida pública para entrar no clube do euro, mas muitos esquecem que foi a assessoria do banco Goldman Sachs que ajudou a camuflar o avultado défice do país helénico. Este facto colocou a descoberto os desequilíbrios monetários da união europeia, mas nada foi feito em relação a isso. Para além disso, se bem que a Grécia e Portugal tivessem situações diferentes no início da crise, os planos de austeridade conseguiram aumentar os níveis de desemprego para valores insustentáveis, apesar da situação fiscal nos dois países ser muito diferente: o comportamento da Grécia foi irresponsável, enquanto Portugal (apesar de tudo) havia sido um aluno disciplinado do euro, e que tinha seguido as regras. Mas nada disso serviu e as políticas da troika vieram ainda piorar tudo.
Por essa razão, esta eleição de ontem na Grécia foi um duro golpe contra a troika, e principalmente contra Ângela Merkel que impulsionou as políticas mais draconianas e selvagens sobre a economia real, apesar de ter dado todo o apoio e dinheiro dados ao sistema financeiro. Isto, como ficou demonstrado, não fez mais do que disparar as desigualdades a nível global, confirmando que se governa a favor das elites financeiras, ao passo que o resto do mundo é que deve pagar a conta dos seus vícios. Por isso é que o presidente do movimento Syriza, Alexis Tsipras disse de forma contundente: “a era da troika acabou”
Se bem que Tsipras tenha manifestado a vontade de não sair UE e que a Grécia se irá manter no euro, dado que voltar ao dracma não é tecnicamente viável por enquanto, nenhuma destas opções é muito popular na Grécia porque uma boa parte da população está cansada da tirania do euro. Por outro lado, a UE não vai querer um abrandamento das medidas de austeridade na Grécia devido ao impacto que isso teria em outros países altamente endividados como a Itália, a Espanha e a França.
A rebelão grega contra os amos financeiros da UE pode provocar um assédio económico prolongado, enquanto o Syriza procura negociar novos termos para um resgate. A UE espera que a falta de dinheiro possa obrigar a Grécia a cumprir com os acordos existentes, e nestes termos a colisão será inevitável. Depois de cinco anos de políticas ditadas por Berlim e por Bruxelas, a Grécia afundou-se na pior das crises, e agora o país helénico quer ser dono do seu próprio destino, apesar das adversidades que se adivinham. Como diz o Professor Aristides Hatzis da Universidade de Atenas: “É como o jogo da galinha, com a Grécia e a UE a conduzir contra o outro e cada um esperando que o outro se desvie primeiro para evitar uma colisão”.