Investir ou não em tempos de crise

Investir ou não em tempos de crise?

Investir ou não em tempos de criseDesencadeadora de convulsões sociais, políticas e económicas a crise global pode ser encarada como uma fonte de novas oportunidades. Ambíguas devido às incertezas que não deixam de existir em relação ao futuro e certamente promissoras de mudança ou, como alguns eruditos defendem, fixação de uma nova ordem mundial.

A conjuntura económica ao nível mundial e particularmente ao nível português encontra momentos difíceis, advindos essencialmente da desconfiança dos investidores em relação à capacidade dos Estados e empresas públicas ou privadas conseguirem pagar as dívidas que contraíram resultantes dos seus investimentos.

As poucas previsões optimistas de várias figuras públicas carismáticas também cessaram e assim a ideia de que vivemos num período de grave crise económica acabou por ser aceite unanimemente em todos os sectores da sociedade, ao ponto da própria palavra crise ser a mais ouvida no dia-a-dia. Esta palavra é já quase um cliché utilizado para responsabilizar todos os males que nos afectam, nomeadamente o aumento do custo de vida, o aumento do desemprego e os tumultos sociais que daí advêm.

Para quem quer fazer investimentos a palavra crise tem um carácter desencorajador, provoca desânimo e receio em relação ao presente e ao futuro, fazendo com que progressivamente se cancelem ou adiem novos investimentos.

Por este motivo há quem defenda que a repetição contínua do conceito crise culmina no agravamento ainda mais acentuado da própria crise pelo efeito desencorajador que propicia na sociedade, que se retrai em relação a novos investimentos, devido à desconfiança em relação ao seu sucesso e ao receio de ver perdido o capital investido, acabando-se por ficar assim numa situação pior. Desta forma a repetição contínua do conceito crise acaba também por ser uma forma de consciencializar a sociedade não só a preparar-se para o pior como também a reflectir de forma ponderada antes de efectuar qualquer investimento.

No entanto a história tem demonstrado que os inúmeros momentos de crise pelos quais a humanidade passou acabaram por ser também uma nova fonte de oportunidades. Nestes períodos a humanidade vê-se condicionada pelos escassos recursos que tem à sua disposição e para ultrapassar os problemas recorre a novas formas de desenvolvimento, anulando ou melhorando as anteriores.

Um exemplo de profissão de sucesso em período de crise é a de sapateiro. As famílias ao verem-se com menores recursos monetários para comprar calçado novo optam por aumentar o tempo de utilização do calçado velho, recorrendo aos sapateiros para os consertarem, o que torna a despesa com o calçado mais em conta com a situação actual.

Os investimentos de sucesso poderão ainda depender do espírito comunitário que envolve ou não o investidor. O individualismo pode ser o maior inimigo num tempo de crise. Pelo contrário os investidores que interagem em meios comunitários, que dialogam entre si com o objectivo de resolver não só os seus problemas como também os dos outros aumentam as suas possibilidades de assentar no tempo crítico presente fortes raízes que poderão permitir a construção de um sólido investimento no futuro.

Outra forma de investimento questionável nos tempos de crise é o que é praticado na educação. As famílias investem grandes esforços na formação dos seus filhos, sendo aqui gasta uma fatia importante do orçamento familiar. No entanto, neste período de crise verificamos que, apesar de termos cada vez mais jovens com formação superior os mesmos passam por inúmeras dificuldades para encontrar um emprego que seja digno da sua formação académica. Acabando muitos por se sujeitar a serem explorados pelos patrões.

Este paradigma permite questionar se realmente o investimento na educação, quer por parte das famílias ou do Estado está a servir para amortizar ou para piorar os efeitos da crise. É unânime considerar que a cultura e educação são fundamentais para o progresso de uma nação, assim se os investimentos na educação existem por parte das entidades competentes e das famílias é de considerar que talvez esse investimento e esforço esteja a ser aplicado de forma errada tanto pelo Estado como pelas famílias que no passado não conseguiram antever quais as necessidades profissionais que existiriam no futuro.

Uma vez que os investidores estão receosos em relação ao futuro e não há grandes possibilidades de manobra para praticar investimentos experimentais, é necessário encarar a falta de capital como um grande desafio, procurando encontrar bons investimentos com os recursos mínimos, valorizando as qualidades que existem, aumentando a sua eficiência e eliminando os elementos negativos existentes.

Um período de crise pode ser assim também um período de oportunidades para os que conseguirem perspectivar o futuro, percebendo antecipadamente quais as necessidades que a sociedade poderá ter durante e após o período de crise.

Em conclusão o investimento em período de crise poderá ter sucesso se houver a capacidade de antever as necessidades futuras, fazendo o investimento com cautela e sem correr graves riscos, uma vez que os tempos de incerteza podem propiciar mudanças imprevistas capazes de arruinar até os investimentos aparentemente mais lúcidos e ponderados.

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