O primeiro processo de mundialização foi liderado inicialmente pelos portugueses, quando lograram “navegar por mares nunca antes navegados”. Durante os “Descobrimentos”, sempre nos caracterizámos pela relativa facilidade de integração com os outros povos e, talvez ainda em resultado de uma população autóctone reduzida, sempre contrariamos a postura de outras monarquias de imposição pela força, sendo o resultado desse nosso comportamento a integração nas comunidades ou povos com os quais estabelecíamos contacto. Este nosso temperamento de aceitação permitiu-nos ser os primeiros a ter relações comerciais com o secular Japão, no pouco conhecido Benin os guerreiros portugueses são actualmente imagens tradicionais que representam coragem, destreza militar e solidariedade entre os povos e muitos outros exemplos de passividade nas relações internacionais poderiam ser destacados.
Durante vários séculos, mediante as dificuldades económicas no país de origem, muitos portugueses optaram por emigrar para distintos pontos no mundo, de salientar o elevado fluxo de emigrantes durante a década de 60. Mais recentemente, resultado da actual e pronunciada crise económica portuguesa, existiu um significativo aumento da emigração, sobretudo de jovens qualificados.
Os números actuais são expressivos e claros: 40% dos Portugueses existentes no mundo residem fora de Portugal, em diferentes países. Os números apresentados podem ser meramente descritivos ou podem representar uma oportunidade única, real e ainda praticamente inexplorada: a criação de um lobby através da diáspora portuguesa. Na realidade, nunca se discutiu abertamente uma estratégica para a enorme diáspora portuguesa, plano esse que visa fortalecer o poder e o peso de Portugal junto das comunidades locais e, paralelamente, ser uma oportunidade para os nossos interesses, em termos económicos, comerciais e políticos.
Parece um conceito abstracto e os benefícios de tal estratégia surgem turvos numa primeira análise, mas a estratégia proposta, tácita e silenciosa, já é levada a cabo por outros povos (um exemplo real é a comunidade judaica espalhada pelo mundo), com importantes resultados económicos, políticos e sociais. O sentido de proximidade descrito, em termos práticos tem consequências extremamente positivas, como a procura de bens ou serviços prestados por empresas ou departamentos liderados por pessoas da mesma comunidade. O efeito bola de neve, ao longo das décadas, começará inevitavelmente a surtir efeitos. Complementarmente é fundamental uma estratégia diplomática estudada e que visa valorizar o peso das comunidades no seio das sociedades receptoras, solicitando mais regalias e incrementando do peso político e social.
Exemplos que deveriam ser introduzidos juntos das comunidades portuguesas no estrangeiro:
- Preferência pelo recrutamento de colaboradores (obviamente válidos e com elevadas capacidades) com origem portuguesa;
- Nas relações comerciais, preferência por empresas (com elevados padrões de profissionalismo, com claras mais valias e com preços de mercado competitivos) com origem portuguesa. Esta opção pode passar por empresas de empreendedores da comunidade portuguesa local ou, mais abrangente, por empresas de Portugal (sendo então uma forma para que algumas empresas portuguesas se consigam implementar em outros países);
- As numerosas comunidades emigrantes podem ainda ser a porta de entrada de produtos nacionais (mais fácil de adquirirem pela proximidade cultural);
- Caracterização detalhada da comunidade e identificação dos profissionais e empresas (de vários sectores) com origem portuguesa, de forma a existir um acompanhamento permanente da rede de origem portuguesa e utilização da mesma como promoção do crescimento e dinamismo económico e comercial;
- Presença habitual e regular de representantes políticos nacionais e uma permanente diplomacia junto das autoridades locais a todos os níveis;
- Criação de centros de referência (em todos os países com fortes comunidades portuguesas) de promoção da cultura, tradições e mais-valias actuais dos portugueses (habilidade linguística, espírito inovador, etc…). Inacreditavelmente, a visão relativamente a Portugal, em muitos dos países com forte comunidade Portuguesa, está desfasada da realidade e Portugal ainda é caracterizado como um pais de agricultores e pescadores, atrasado e retrógrado.
As remessas dos emigrantes portugueses sempre foram importantes para equilibrar a balança de pagamentos de Portugal, no entanto a diáspora pode ter um papel ainda mais activo. Recentemente a revista “The Economist” salientou que um forma dos países em dificuldades beneficiarem ainda mais da relação com os seus emigrantes é conseguindo ter acesso às poupanças dos mesmos. Com esse intuito, os governos dos países pobres podem emitir obrigações e comercializá-las aos emigrantes residentes em países ricos.
Os emigrantes têm características que reforçam o interesse da proposta apresentada: são patrióticos, sentem uma enorme satisfação caso as suas economias sejam úteis para coadjuvar o país de origem nomeadamente possibilitando a construção de hospitais e escolas, têm uma visão de longo-prazo (poupam para a reforma) e são investidores pacientes.
Uma questão pertinente é: como facultar tais produtos a pessoas tão distantes e dispersas? No entanto, em termos práticos o processo é relativamente simples: actualmente existem voos bastantes acessíveis e a facilidade de comunicação permite que os emigrantes estejam frequentemente em contacto com o seu país de origem, por outro lado, o governo podem optar por contactar os emigrantes através de empresas de transferência de dinheiro que eles utilizam actualmente.
De salientar ainda que Israel e a Índia já emitiram obrigações para as respectivas diásporas, tendo obtido resultados bastante positivos.