Existe um tabu que diz que fazer um novo crédito para pagar dívidas antigas é mau. Parece que é destapar um olho para tapar o outro. Mas será bem assim?
Para começar, há alguns dados que devemos conhecer sobre os pedidos de crédito. Um dos dados mais controversos refere que a grande maioria dos créditos aprovados foram utilizados para refinanciar ou consolidar dívidas anteriores. Na realidade, há poucas pessoas com a sensibilidade financeira para reconhecer que fazer um crédito para pagar dívidas não só é uma boa estratégia, como também é aconselhável. É tudo uma questão de verificar os valores envolvidos e ver o que é mais favorável para cada situação.
Com efeito, esta situação é muito comum nas empresas multinacionais e até mesmo com o governo. Por exemplo, quando ouvimos dizer que o Estado Português fez um novo empréstimo para liquidar um anterior, com juros mais favoráveis, isso significa que este refinanciamento vai poupar ao Estado bastante dinheiro em juros. Efectivamente, o que estão a fazer as empresas e os governos é pagar uma dívida com outra dívida, ou seja, estão a fazer um crédito para pagar dívidas. E fazem-nos constantemente, sempre que o mercado e as condições o permitem, mesmo quando não há qualquer risco de não pagamento dos compromissos anteriormente assumidos.
É importante considerar que para que um refinanciamento ou consolidação de dívidas tenha sucesso, será melhor fazê-lo apenas e quando estivermos numa posição favorável. Ou seja, quanto melhores forem as condições de mercado e mais sólidas forem as empresas/governos, melhores serão as condições de crédito obtidas. Por exemplo, se alguém quiser fazer um crédito para pagar dívidas mas tiver deixado de pagar algum dos seus anteriores créditos, então será quase impossível conseguir um crédito mais barato e/ou com melhores condições.
E o mesmo sucede com as pessoas. Quanto melhor for o seu historial de crédito e quanto maior for a sua capacidade de pagamento (rendimentos “livres” para pagar o crédito, livres de gastos e outros compromissos), melhores serão as condições de refinanciamento que conseguirá obter. Pelo contrário, se tiver contas vencidas e quer pagar uma dívida com outra dívida, seguramente que isso será muito difícil, para não dizer impossível.
Mas paradoxalmente a melhor altura para refinanciar as suas dívidas é quando aparentemente não está a precisar de o fazer, pois tem margem de manobra para continuar a pagar os seus créditos.
As empresas e os governos têm uma mentalidade diferente, pois estão constantemente a velar pelo interesse dos seus accionistas ou cidadãos, procurando sempre refinanciamentos com melhores condições de mercado, mesmo quando têm possibilidade de continuar a pagar os seus créditos. Essa é a mentalidade que também devemos ter como pessoas, pois mesmo que tenhamos alguma folga para pagar comodamente as nossas dívidas, por que razão nos devemos resignar a pagar 1 euro a mais de juros do que o necessário?
Então será boa ideia fazer um crédito para pagar dívida ou pagar uma dívida com outra? Claro que sim, mas sempre e quando as condições da nova dívida forem melhores do que a anterior. E como as taxas de crédito actuais (como as aplicadas aos cartões de crédito) são muito elevadas, será quase um feito conseguir estar em boa posição para poder renegociar os seus créditos caros que tem actualmente com outras opções que possam existir no mercado. Desta forma, se não costuma pagar a totalidade do valor em dívida no seu cartão de crédito (pagando o valor mínimo e deixando ganhar juros), mas sempre fez o pagamento de forma pontual, então talvez seja de aproveitar para fazer um crédito para pagar dívidas porque poderá conseguir poupar bastante dinheiro nos juros e nos encargos.