A decadência das democracias ocidentais

A decadência das democracias ocidentais

A decadência das democracias ocidentaisAtualmente, fala-se na decadência da democracia ocidental. Convém esclarecer os conceitos de “decadência” e de “democracia”. Decadência significa declínio e ruína, destruição. Democracia era, segundo a etimologia grega (da Grécia Antiga, onde surgiu o conceito), a forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo.  Os poderes soberanos são sobre o poder legislativo e o executivo, ou seja,  o poder de fazer leis e o poder de as fazer cumprir. Como é que o cidadão pode exercer tal poder? Obviamente, pelo exercício da sua responsabilidade cívica, através do voto.

A democracia é aplicada quando há eleições e o desejo do povo é representado por um Parlamento, por um sistema judicial independente, com obrigação de obedecer às leis. Na democracia, teoricamente, defendem-se os direitos individuais e das minorias.

Teoricamente, parece um sistema funcional e perfeito, oposto à ditadura, o governo de um (ou de poucos) sobre muitos. Todavia, o sistema tem vindo a mostrar fragilidades, brechas, fraturas que minam as boas intenções do processo democrático, apesar de ser uma forma de governo que acredita respeitar o individualismo.

A Democracia Ocidental  compartilha um legado colonial e imperial de explorar território de outros para sua própria riqueza. Ao invés, o sistema democrático baseia-se nos princípios de governo da maioria, dos direitos individuais e das minorias. Uma das suas principais funções, acredita, é proteger os direitos humanos fundamentais, tal como a liberdade de expressão. Essa é considerada, aliás, uma das principais premissas para a ocorrência da democracia.

Claro que a liberdade de expressão é algo que é considerado positivo, mas, na verdade, abre lugar a uma certa libertinagem. A lei é um obstáculo ao exercício da liberdade. O “excesso” de liberdade poderá degenerar no fim da liberdade do outro. É que, “a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Liberdade não significa libertinagem; deve ser o respeito por nós e pelos outros, harmonia delicada.

Há muitos também que apontam o dedo, como causa desta decadência, ao sistema monetário, à expansão e à redução espontânea do crédito. As pessoas endividaram-se, ao confiarem cegamente que conseguiriam pagar tudo, através de prestações mensais. Daí, ocorreu um endividamento brutal dos cidadãos, escravos da banca e do facilitismo aparente e ilusório. O sacrifício da poupança, afinal, era o caminho para a liberdade. Que foi descurado…

Estamos cada vez mais presos ao consumo; vítimas do sistema paralelo à democracia, eis o todo-poderoso sistema económico e financeiro. Consumo, facilitismo, mais consumo, importações, dívidas e mais dívidas… desemprego e impossibilidade de pagar o crédito.

De quem é a culpa? Vítimas de propaganda, os consumidores veem-se prisioneiros do monopólio economicista. O crédito foi visto, até há pouco tempo atrás, como um bem imprescindível. Da parte das entidades bancárias, uma filosofia centrada no aumento do faturação: o crédito foi concedido mesmo a quem não reunia garantias para o liquidar. Não bastava o valor das prestações e a taxa mensal de crédito… agora, há que amortizar os créditos, custe o que custar…

Outra das causas para a decadência das democracias ocidentais prende-se com a demasiada ênfase colocada na progressão da carreira. O importante é chegar ao topo, custe o que custar; doa a quem doer. O valor do trabalho aparece diminuído: o que importa é “fazer carreira”.

Por outro lado, o trabalho assalariado é aquele que mais sofre a carga fiscal. O povo é quem mais paga impostos, particularmente a denominada “classe média”. A enorme carga fiscal sobre os cidadãos faz com que o trabalho qualificado seja extremamente dispendioso, ao contrário da mão de obra pouco remunerada de outros trabalhos que exijam menos conhecimentos teóricos, menos estudos, sem “canudo”. O valor do trabalho manual é desvalorizado em prol do trabalho intelectual. Muitos, demasiados aspiram a esta última categoria, o que conduz, inevitavelmente, à subestima de tarefas manuais, desempenhadas por cidadãos de outros países, o que conduz ao menosprezo das atividades manuais, alicerce de toda e qualquer sociedade.

A aposentação precoce dos cidadãos aparece como outra hipotética causa para a falência da segurança social dos países, quiçá, aproximando-os da bancarrota. A melhoria das condições de vida, o progresso nos cuidados médicos conduziu-nos ao aumento da esperança média de vida. Vivemos mais. Nascem menos pessoas. Há um rápido e progressivo envelhecimento populacional. Como garantir, então, um equilíbrio salutar entre estes dois pólos? Como garantir a continuidade do sistema social? Como garantir o justo descanso a quem contribuiu anos e anos?

Imbróglios de difícil solução. Os governos desdobram-se em propaganda para incentivar a natalidade. Contudo, as boas intenções não chegam. Os subsídios atribuídos não cobrem os gastos com tudo aquilo que se despende com a educação de um infante até à idade de ser autónomo e produtivo para a sociedade. O custo de vida impele-nos a calcular tudo, até a eventual chegada da prole.

Quanto custa uma vida humana? Qual o valor da educação? Como produzir um cidadão? Como torná-lo um elemento produtivo? Em que atividade? Muitas interrogações, poucas respostas.

Individualismo, competição, capitalismo desenfreado, injustiça e exclusão social e muito egoísmo parecem minar a sociedade contemporânea ocidental. Há que contrariar estas tendências com a fraternidade, a igualdade, a tolerância, a fé na humanidade e nos seus valores mais íntegros.

Photo credit: Diogo Beirão Duarte via Foter.com / CC BY-SA

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